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RELATOS DAS CAMINHADAS

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  1. Iniciar pelo primeiro ponto de ônibus, no Posto Raul, e subir a rua principal, adentrando as adjacentes

  2. Iniciar pela última rua do bairro e ir descendo até o ponto de ônibus do Posto Raul

  3. Registrar os locais onde irei fazer os percursos. Ex: Rua Ouro Preto; ponto de referência.

  4. Registrar minhas percepções dos lugares: sons, cheiros, arquitetura, movimento dos carros, cores, etc.

  5. Registrar os trajetos percorridos: “subi tal rua”, “depois virei à esquerda”, “desci novamente”, etc.

  6. Registrar as horas e as sensações: “estou sentindo/acabei de ver ou conversar”, etc.

Regras:

Cronograma:

1ª CAMINHADA

11/04/2018 

Das 9h às 13h (4h)

2ª CAMINHADA

 01/05/2018

Das 13h às 17h30 (4h30)

3ª CAMINHADA

09/05/2018

Das 9h30 às 12h30 (3h)

4ª CAMINHADA

11/05/2018 Das 11h30 às 15h30 (4h)

5ª  CAMINHADA

31/010/2018

Das 9h30 às 12h (2h30)

6ª  CAMINHADA

01/11/2018

Das 10h às 12h (2h)

7ª  CAMINHADA

21/11/2018 

Das 09h30 às 11h30 (2h)

8ª   CAMINHADA

04/12/2018

Das 10h30 às 12:30 (2h)

11/04/2018  - Perder-se para achar

  • Materiais utilizados: caderno e celular.

  • Registros por escrito, fotos, vídeos e sonoras.

  • Vestimenta: camiseta, short e tênis.

  • Minha primeira caminhada aconteceu na manhã de quarta-feira, mais precisamente das 9h às 13h30 da tarde, ou seja, entre pegar o ônibus, andar pelo bairro, conversar com os moradores, adentrar  suas casas e fazer meus registros (fotos, vídeos, sonoras e anotações), gastei cerca de quatro horas.

  • Comecei a relatar minhas percepções desde a hora em que estava no ponto aguardando a chegada do ônibus.

  • Utilizei o bloco de notas do celular e meu caderno para fazer os registros textuais;

  • Inicialmente, tinha traçado como regra para essa primeira caminhada subir a Diamantina e seguir reto do início até o final da rua, mas logo que desci do ônibus, no Posto Raul, a metodologia seguiu outro rumo: roteiros intuitivos e abertos.  

  • Subindo a primeira parte do morro, em conversa com Alvino, morador do bairro vizinho, Chácara, obtive informações sobre as primeiras habitações do Cabanas.

  • Descobri que os primeiros moradores do bairro vieram das roças vizinhas e que as “cabaninhas” que ainda existem pertencem à família Rodrigues, proprietária da Mina de Passagem. 

  • Passei em frente à casa onde morei no ano de 2015, por um período de seis meses; a escola em que estudei no ensino fundamental; também encontrei com meu tio “Tim” que, provavelmente, estava indo trabalhar.

  • Assim que me despedi de Alvino, sentei em um passeio para fazer anotações sobre nossa conversa.

  • Continuei seguindo em linha reta e parei em um estabelecimento onde um cachorro dormindo na porta chamou minha atenção; tirei fotos e conversei com o dono da loja.

  • Descobri que o terreno da casa de Simério já foi ocupado pela “Fazenda do Barão”.

  • Descobri que,do outro lado da rua, ficam as “cabaninhas” que deram início à história do bairro.

  • Conheci as cabaninhas e alguns dos moradores que atualmente trabalham e vivem lá.

  • Milton Sanfoneiro, sua esposa “Susi”, seu filho “Miltin” e seu amigo Joselino, mais conhecido no bairro como “Tiririca”; Tiririca ajuda Milton na criação dos cavalos.

  • Fiquei lá por mais de uma hora conversando, observando e fazendo registros.

  • Descobri que Milton realiza cavalgadas e o “Encontro de Sanfoneiros” no terreno de sua casa, que é uma roça situada na entrada do bairro.

  • Na hora de ir embora, enquanto fazia fotos de duas crianças no ponto de ônibus, uma loja de artesanato chamou minha atenção. Pedi permissão à proprietária para tirar fotos da fachada e começamos a falar sobre meu trabalho. Uma mulher (Fabiana) ouviu nossa conversa e me contou que havia morado nas “cabaninhas”. Ela relatou que passou sua infância/adolescência lá,e me convidou para ir até sua casa para contar sua história.

  • Entrei na casa de Fabiana. Sentamos à mesa de sua cozinha para conversarmos e, logo depois, ela me levou até seu escritório e me mostrou algumas fotos antigas da sua família.

  • Por volta das 13h20 me despedi de Fabiana e fui para o ponto de ônibus. Lá me encontrei com Aline, uma das ex-integrantes do “NBN”. Nossa conversa fora interrompida pela chegada do ônibus. Entramos.

  • De dez a quinze minutos depois, estava de volta ao centro histórico da cidade.

  • Meu trabalho de campo se deu apenas no início do morro, onde o bairro começa.

  • Fiz algumas perguntas que havia planejado e outras surgiram no momento das entrevistas. 

  • Percebi que,para as próximas caminhadas,irei precisar de um gravador para registrar tudo em áudio para,depois, transcrevê-los, pois não há tempo para ficar fazendo anotações enquanto caminho e converso com as pessoas.

  •  As fotos e vídeos dos lugares continuaram a ser registrados via celular.

01/05/2018 -  Perder-se para achar

  • Decidi fazer minha segunda caminhada no feriado do Dia do Trabalhador pelo seguinte motivo: o comércio é o ponto forte do bairro, sendo assim, pude vivenciar o contraste entre um dia comum, em que os estabelecimentos estão abertos e as ruas mais agitadas, e no feriado, dia em que as ruas são mais calmas. Há sutilezas como: tomar sol na porta de casa, ir na casa do vizinho, sair para tomar sorvete, caminhar, jogar bola, sentar na porta do bar, etc.

  • Iniciei meu trabalho de campo às 13h e terminei 17h30.

  • Equipamentos utilizados: gravador e celular.

  • Vestimenta: camiseta, short e tênis.

  • Ao descer do ônibus, fiz fotografias e vídeos da entrada do bairro: posto de gasolina, ponto de ônibus, subida do morro, oficina de automóveis, casa colonial ao lado esquerdo do morro. 

  • Decidi que,dessa vez, iria fazer registros das casas, do comércio e dos lugares que me lembravam estar na roça.

  • Me atentei às cores das casas, dos estabelecimentos que, em sua maioria, estavam fechados, dos sons que vinham de dentro das casas e dos carros, das pessoas conversando umas com as outras; o barulho do vai e vem dos automóveis (vez ou outra eles dificultavam as captações sonoras).

  • Adentrei em três ruas: Rio Casca, Viçosa (esquerda) e Policlínica (direita)

  • Durante a caminhada, fiz várias paradas para gravar minhas percepções, beber e comer, carregar a bateria do celular (na sorveteria). Percebi que durante as “pausas” continuava a fazer registros e a conversar com as pessoas. Foi assim que conheci Arnoldi e Dona Lúcia.

  • Na sorveteria, tive uma breve conversa com a atendente. As pessoas que estavam lá ficaram prestando atenção na nossa conversa e, vez ou outra, participavam do diálogo.

  • Descobri que é a única sorveteria da cidade que vende sorvete fabricado na cidade de Ponte Nova.

  • Enquanto estava lá, carreguei meu celular, tomei sorvete (frutas vermelhas e milho), fiz fotos, deixei o gravador captando sons.

  • Uma tática para conseguir ganhar tempo: em vez de fazer anotações no caderno, comecei a fazer gravações das minhas impressões por áudio.

  • Algumas vezes as pessoas ficavam me observando, tentando entender porque eu ficava tirando fotos dos lugares.

  • Quando estava no início do morro, um moço (que trabalha no posto de gasolina) chegou a me abordar para perguntar se estava fazendo um trabalho ou se era por hobbie; na rua Viçosa, uma mulher na sacada do terraço me perguntou, meio desconfiada, o porquê de estar tirando fotos das casas e, se eu era jornalista, porque eu não estava usando crachá.

  • Saindo da rua Viçosa, encontrei Tiririca conversando com dois homens na porta de um bar (esquina da rua da Policlínica).

  • Fotografei e fiz vídeos dos garotos jogando bola no gramado, em frente à Policlínica do bairro.

  • Parei para conversar com dois meninos que estavam lavando os pés atrás da Policlínica. Fiz fotos e vídeos deles. 

  • Há uma espécie de “passarela” acima da Policlínica, onde as pessoas costumam fazer caminhada ou apenas sentar para sentir o tempo passar (ou não).

  • Um carro com auto falante chamando os moradores para participarem de um culto evangélico chamou minha atenção (captei o áudio); um grupo de pessoas indo ou voltando da igreja também chamou minha atenção (nessa hora, meu celular já estava com a bateria acabando, portanto, não consegui fazer um registro dessas pessoas caminhando).

  • Percebi que, mesmo fazendo registros com os equipamentos, algumas coisas estarão guardadas apenas na minha memória, seja porque a bateria acabou ou porque não deu tempo de captar.  

  • Depois de algum tempo, cheguei à conclusão de que fazer registros de várias coisas ao mesmo tempo me deixava confusa e um pouco perdida. Então,tive uma ideia: começar a separar as caminhadas por temas:

  1. quintais/roças

  2. casas, construções

  3. moradores e suas histórias

  4. comércio 

   Obs: (sempre anotando o nome da rua onde estiver)

  • Impressões corporais: o dia estava ensolarado e, mesmo usando camiseta e short, logo no início, percebi que a temperatura do meu corpo aumentou e senti suor descendo pelas minhas costas e braços. Com o tempo, minha boca foi ficando seca e os meus pés foram ficando quentes dentro do tênis. Por isso, fazia pausas para descansar.

  • Com duas horas de caminhada,comecei a ficar cansada, mas a adrenalina para continuar era tão grande que até esqueci do cansaço; também não vi a hora passar. Eu só queria continuar caminhando e  fazer registros das coisas que via. Na volta para casa, quando sentei no banco do ônibus e acalmei os ânimos, é que, de fato, pude perceber o quanto estava exausta. Minha boca e mãos estavam secas. Já não conseguia prestar atenção nas coisas à minha volta.   

09/05/2018 - Comércio

  • Equipamentos utilizados: celular, gravador e caderno.

  • Vestimenta: calça, jaqueta e sapatilha. 

  • O dia estava nublado, fazendo frio.

  • Caminhei em busca de comerciantes dispostos a conversarem comigo.

  • Perguntas feitas aos comerciantes: 1) nome, idade, cidade natal e endereço do estabelecimento; 2) há quanto tempo mora no cabanas?; 3) como surgiu o estabelecimento/como conseguiu o emprego?; 4) o imóvel é seu ou é alugado?; 5) conte-me um pouco sobre a sua rotina de trabalho.

  • Além das perguntas prévias, outros questionamentos surgiram de acordo com as histórias que ouvia. 

  • Deixei de entrar em alguns lugares, como oficina de carro e loja de roupa masculina, por medo de ser assediada.

  • Enquanto descia o morro, um homem ficou me olhando e diminuiu a velocidade do carro para me acompanhar. Fiquei com medo. Parei de andar e peguei meu celular.  Fingi que estava ligando para alguém: “Já tô aqui te esperando”.

  • Ao contrário das outras duas vezes, neste dia decidi descer no terceiro ponto de ônibus da rua Diamantina, uma vez que grande parte do comércio se concentra ali.

  • Barbearias, lojas de roupas masculinas, femininas e infantis, supermercados, lanchonetes, casa lotérica, salões de beleza, lan house, consultório odontológico, drogarias, lojas de eletrodomésticos, de imóveis, materiais de construções, etc.

  • Duas mulheres ficaram acanhadas e não quiseram conversar comigo, mas a maioria foi receptiva, deixando que eu até fizesse retratos. 

  • Ao descer do ônibus, uma mulher vendendo verduras,na esquina da rua da Policlínica, chamou minha atenção, mas,como estava um pouco distante, deixei para conversar com ela quando estivesse descendo o morro.

  • Entrei na lanchonete “Real” e conversei com Cristina. Descobri que o estabelecimento funciona há apenas dois meses. Gravei nossa conversa e fiz fotos.

  • Fiz fotografias e vídeos dos estabelecimentos (interno e externo). Plano geral, médio e  detalhe

  • Logo em seguida, entrei em uma barbearia e conversei com Marcos e Marlon, dois irmãos que,aos 20 e poucos anos,já possuem o próprio.

  • Entrei em um supermercado e conversei com Jean, um dos funcionário. Lá dentro encontrei com Tiririca novamente.

  • Depois, desci cerca de 50 metros, em direção à Junia e as verduras na esquina da rua da Policlínica. Conversei com ela, fiz fotos e vídeos. Comprei uma alface por R$ 2,00.

  • Ao final, Junia me desejou boa sorte e disse que meu projeto vai ajudar a divulgar o trabalho independente dela; lamentou sobre a crise econômica na cidade por conta do rompimento da barragem de Fundão.

  • Tendo conversado com Junia, subi o morro novamente. Eram 11h30, horário de almoço e término das aulas. Por isso, a rua estava cheia de crianças e adolescentes vestindo uniforme.

  • A rua estava bastante movimentada. Em determinados lugares,senti o cheiro de comida. Alho refogado e frango frito. Lembrei-me de quando estava no ensino fundamental: chegava da aula e minha mãe estava na cozinha preparando o almoço.

  • Do lado direito, avistei uma padaria que chamou minha atenção pelo seu tamanho. Há mesas para sentar e tomar café. Ao entrar, você sente o cheiro de pão francês que acabou de sair do forno e isso é muito agradável; prateleira de leite, vitrines de bolos, doces, um freezer para frios e laticínios; há também uma prateleira com os “famosos” chips “Gulão”, um tipo de salgadinho muito consumido pelos adolescentes nos anos 2000; há uma pequena sessão reservada para a venda de materiais de limpeza, biscoitos, macarrão e temperos.

  • Por ter preferência por doces, os bolos e os pudins chamaram muito a minha atenção;  o anúncio de “3 pães por 1 real” também.

  • Tomei uma xícara de café acompanhada por uma rosca de fubá que me custaram apenas 1,60.

  •  Conversei com Marlene, mulher que fica no balcão e no caixa. Super simpática, ela ouviu sobre meu trabalho, me contou sobre como conseguiu o emprego e me ajudou na hora de fazer as fotos da padaria; também fiz alguns vídeos e retratos dela.

  • Para finalizar minhas três horas em campo, entrei em um loja de roupas. “Dicas Modas”. Conversando com a proprietária, descobri que ela mora no bairro há 28 anos e, nessa época, o Cabanas não tinha “nada”. As casas eram abastecidas com mangueiras. “Dica”, como costuma ser chamada, também me contou que,antes de ter a sua própria loja, já trabalhou com doceira e fazia pé de moleque para o marido vender no emprego. Apesar de ter uma loja física, ela se considera como sacoleira, porque vende roupa de porta em porta. Além da loja, ela e o marido possuem quatro apartamentos alugados como fonte de renda. Seu marido é aposentado; possuem dois filhos, Douglas e Deivid.

  • Fiz fotos, vídeos e retratos de Dica.

  • Ao todo, conversei com sete pessoas e entrei em seis estabelecimentos.

  • Como a maioria dos comércios se concentram na rua Diamantina, fiz minhas caminhadas subindo e descendo-a.

11/05/2018 - Casas e Construções

  • Equipamentos utilizados: celular, gravador e caderno.

  • Vestimenta: calça jeans, camiseta e sapatilha. (Por conta do assédio sofrido na caminhada anterior, passei a policiar-me em relação à vestimenta).

  • Fiz mais de 400 registros; fotos, em sua maioria, vídeos e áudios.

  • Na minha quarta caminhada decidi parar no ponto final do Cabanas e descer todo o morro a pé.

  • O intuito era fotografar as casas e construções do bairro, mas também fiz registros dos quintais e entrevistei Simério e Dona Maria.

  • Por volta das 11h30 entrei no ônibus.

  •  Enquanto ouvia música, o sol batia forte sob minha cabeça.

  • Uma garota que aparentava ter 16 anos sentou-se ao meu lado.

  • O ônibus estava cheio, mas não havia pessoas em pé.

  • Subindo o morro, avistei o rapaz que trabalha no xerox da faculdade.

  • Na porta da escola onde cursei o ensino fundamental (Escola de Ensino F.M Dom Viçoso) alguns pais esperavam os filhos serem liberados das aulas; vi homens de calça jeans cinza, botina, camiseta verde e mochila (uniforme da Vale) no ponto de ônibus do Posto Raul: estavam indo trabalhar.

  • Crianças descendo o morro, indo para uma escola no centro da cidade.

  • Vai e vem dos carros.

  • Vi Bolota (cachorro do Milton) na porta da loja de Simério.

  •  Duas mulheres com seus filhos no colo sentam à minha frente.

  • Algumas crianças entraram no ônibus. Provavelmente moram na parte mais alta do bairro e estavam voltando da Monsenhor José Cota, escola que fica na parte baixa do bairro.

  • Passei em frente uma casa com azulejos nas cores preta e cinza. Há uns meses, fiz fotos de quatro crianças nesse mesmo lugar. Foi neste dia que surgiu a ideia das caminhadas pelo Cabanas.    

  • Duas crianças dividiram o banco vago ao meu lado. O menino, que aparentava ter uns quatro, cinco anos, com a cabeça encapuzada pela touca acoplada em um moletom azul, olhava para a janela. Seu olhar era de cansaço.

  • O ônibus fez o trajeto Cabanas via Santa Rita de Cássia. O percurso durou de 40 a 50 minutos.

  • Poderia ter descido um ponto antes, na esquina, mas escolhi adentrar o Santa Rita de Cássia, bairro que faz divisa com o Cabanas para observá-lo.

  • Acenei para Vinícius, um dos integrantes do NBN que estava virando a esquina.

  • O ônibus entra e sai de várias ruas.

  • No Santa Rita, há, também, salões de beleza, padarias, mercados, etc.

  • Em contrapartida às construções que encontramos na rua principal do Cabanas, muitas casas ainda estão na primeira fase (puxadinho). No tijolo. Sem reboco. Algumas ainda em fase de construção.

  • As ruas deixam de ter nomes de cidade e passam a ser referenciadas pelos distritos de Mariana. Ex: Rua Sumidouro.

  • Muitas crianças na rua.

  • Uma mulher com a mão apoiada no rosto e sentada na porta de sua casa chama a minha atenção.

  • Idosos entram e saem do ônibus.

  • Uma mulher sentada na porta de sua casa, com sua filha no colo e comendo mexerica,chama a minha atenção.

  • Percebo que muitas pessoas têm o costume de sentar na porta de casa. Seja para tomar sol, fumar ou mexer no celular.

  • Uma moça acena para alguém dentro do ônibus.

  • O calor que sinto começa a ficar insuportável.

  • Chego no ponto de ônibus.

  • Desço do ônibus e cumprimento uma senhora que estava carregando um bebê.

  • Nos trajetos anteriores, o ônibus seguiu reto e traçou algumas curvas. Dessa vez, ele fez um ziguezague entrando e saindo das ruas.

  • Ao fotografar uma casa, um menino abre o portão e, com um olhar de desconfiança, volta para dentro. Poucos minutos depois, sua mãe aparece e me pergunta o porquê de estar tirando fotos da sua casa. Explico sobre meu trabalho e, num ato súbito, seu semblante muda e ela começa a me contar sobre sua relação com o bairro, sobretudo, sobre como era o Cabanas na época em que ela mudou-se para lá. Depois de termos conversado, ela me indicou sua vizinha, Dona Maria, por morar no Cabanas há mais tempo, para que pudesse conversar com ela também.

  • Entrei na casa de Dona Maria. É uma casa escura, que não entra muita luz e tem um quintal. Fiz registros da sua cozinha, do terreiro e da fachada de sua casa.

  • Nessa hora,percebi que, mesmo indo com o intuito de fotografar as casas e construções, acabei entrevistando duas moradoras e fazendo registros de um quintal (pé de chuchu, bananeira, galinhas, codornas, maritaca, fogão à lenha, chão molhado)

  • A casa de D. Maria não possui laje batida. Ao olhar pro teto,é possível enxergar as telhas de amianto.

  • Em conversa com uma moradora descobri que, assim como no início das habitações no bairro, alguns moradores ainda abastecem suas caixas d’água por meio de mangueiras.

  • Fui em busca desses moradores, mas sem êxito: em uma casa ninguém me atendeu. Na outra, a mulher ficou com vergonha de conversar comigo e, na última, a moradora sentiu-se ameaçada: “se você colocar isso no jornal, a prefeitura vai descobrir e vai vir aqui encanar a água, e aí nós vamos ficar sem água, entende? Às vezes, uma coisa que você quer fazer por bem, pode acabar prejudicando a gente”.

  • Enquanto estava em um beco estreito, com chão de terra e pedras, tive a sensação de estar em uma roça, pois não havia o barulho dos carros. Era possível ouvir, mas muito distante; também não havia o vai e vem das pessoas; ouvi o som dos galos cantando, das árvores balançando e do silêncio.

  • Conheci Maria da Glória. Tímida, ela conversou comigo e disse que, em um outro dia, poderia me mostrar as fotografias antigas do bairro; também conversei com seu namorado, mas ele pediu para que eu não gravasse nossa conversa. Respeitei sua decisão. Basicamente, conversamos sobre o abastecimento de água nas casas.

  •  Enquanto andava pelas ruas, cumprimentava os moradores. “Olá. “Bom dia”.

  • Continuei fotografando as casas e construções.

  • Optei por fazer fotos em planos mais abertos, médio e detalhe e, a maioria, na horizontal.

  • Tive dificuldade em fotografar algumas casas que estavam no lado esquerdo da rua Diamantina,por causa do reflexo da luz do sol. Em algumas situações, eu ia pro meio da rua para achar um bom ângulo, mas o vai e vem dos carros me impossibilitava.

  • Ao relatar minha ida a campo, percebi que, tanto as gravações das minhas percepções, quanto os áudios das entrevistas estão sendo essenciais para a escrita dos relatos. 

  • Por volta de 13h20 comecei a descer a última rua do Cabanas, a Conselheiro Lafaiete.

  • O som de um sino dos ventos chamou minha atenção; som das árvores se mexendo, das pessoas andando, dos pintinhos cantando, das crianças conversando, dos motores de carro; som do martelo; havia pessoas construindo ou reformando algo em suas casas; silêncio.

  • Fiz uma pausa na casa da minha irmã.

  • Em seguida, fui atrás de moradores que são donos do próprio estabelecimento e moram no andar de cima ou na casa ao lado.

  • Fui entrando nas lojas perguntando, mas não consegui encontrar ninguém (as pessoas eram apenas funcionárias).

  • Voltei na loja de Dica, pois sabia que ela se encaixava nesse perfil, mas ela não estava.

  • Encontrei Thamira e Pedro (integrantes do Mica e do NBN) indo para uma oficina na Escola de E.M Cabanas. Ficamos conversando sobre o projeto por alguns minutos.

  • Continuei descendo em direção à loja de Simério (um dos moradores que conheci na minha primeira caminhada), pois lembrei-me que ele possui uma loja no mesmo terreno que sua casa e também um quintal, onde situava-se a “Fazenda do Barão".

  • Entrei no mesmo supermercado onde conversei com Jean dois dias antes e comprei duas maçãs por R$1,22. Estava com fome e não tinha almoçado.

  • Uma mulher, que estava esperando sua amiga, me abordou perguntando se poderia usar meu celular para fazer uma ligação. Terminada a chamada, ela agradeceu e me convidou para ir à casa dela. “Deus lhe pague moça. Depois cê vem cá casa”. Mesmo sabendo da possibilidade de não encontrá-la novamente, respondi: “Por nada. Pode deixar que, quando voltar, eu vou sim!”

  • 14h30. Comecei a conversar com Simério. Enquanto conversávamos, ele me mostrou sua loja e seu quintal; me contou sobre como era a Fazenda do Barão antes de ser demolida,e que tem planos futuros para construir uma casa no mesmo lugar; também me mostrou fotos antigas. Pedi emprestadas para scanear, mas ele ficou um pouco receoso e disse que iria conversar com sua mulher.

  • Senti uma certa dificuldade ao fazer os registros: tive dificuldade em andar pelo quintal, prestar atenção no que Simério dizia, gravar sua fala e fazer as fotos e vídeos sozinha.

  • Depois que conversamos, fui embora com várias picadas de mosquito e com a roupa suja. Estava muito cansada. Talvez mais cansada que das outras vezes.

  • Percebi, neste dia,que este trabalho estava exigindo muito de mim. No decorrer dos dias, era comum que ficasse  exausta, pois, além das caminhadas, quando chego em casa,tenho o trabalho de descarregar todo material coletado, fazer os registros por escrito e as transcrições das entrevistas,que variam de quatro minutos a uma hora.

  • O barulho de ônibus descendo chama minha atenção.  

  • Percebi que as diferenças nas construções do Cabanas falam muito sobre a situação financeira e costumes dos moradores; há casas que ainda estão na primeira fase (puxadinho), outras já possuem um estabelecimento e mais três andares acima; algumas com automóveis na garagem, outras sem pintura; as cores variam entre verde, rosa, amarelo, azul, roxo; cores mais discretas, outras mais abertas e chamativas; há casas que, em vez de tinta, possuem azulejos na fachada; janelas coloniais (mais caras), janelas de alumínio (mais baratas), umas com apenas um pavimento, outras com dois, três apartamentos; casas com quintais, com estabelecimentos embaixo ou anexados ao lado, telhas coloniais (mais caras), telhas de amianto (mais baratas); casas decoradas com flores e plantas, toalha pendurada na janela; saco de lixo pendurado no portão.

  16/05/2018 - Observações

  • A metodologia do trabalho se deu através das entrevistas primárias com alguns moradores do bairro.

  • Também fiz pesquisas na intenção de obter acervos fotográficos do bairro nos primeiros anos (grupo “Fundo do Báu”, no Facebook); para continuar tendo acesso a esse acervo, durante minhas caminhadas, perguntava aos moradores se eles possuíam fotografias antigas do Cabanas.

  • Depois da quarta caminhada, comecei a fazer a seleção dos materiais que havia obtido (separado por temas: quintais/roças, comércio, moradores e suas histórias, casas e construções.

  • Percebo que preciso caminhar em mais algumas ruas adjacentes e refazer algumas fotografias.

  • Possibilidade de um novo tema: "cotidianidades"; registros do dia-a-dia do bairro.

  • Nas duas primeiras vezes, optei por caminhar pelo bairro sem estabelecer um roteiro específico (perder-se para achar); eu caminhava e registrava tudo aquilo que chamava a minha atenção. Foi com esse material captado que consegui visualizar os temas a serem abordados neste trabalho; da terceira vez em diante, as caminhadas foram pré-definidas de acordo com esses temas (quintais/roças, comércio, casas e construções, moradores e suas histórias), mas continuaram acontecendo de forma imprevisível.

31/10/2018 - Retorno

  • Na manhã de quarta-feira, finalizei questões pendentes.

  • Entrevistei o morador Eduardo Vargas (vídeo).

  • Ele contou a história do bairro, como era na época das primeiras habitações e como se deu o desenvolvimento do Cabanas.

  • Logo depois, fui atrás de outra fonte indicada por Eduardo, Dona Odir, também uma das primeiras moradoras do bairro. Marcamos nossa conversa para o dia seguinte.

  • Fiz alguns vídeos e fotografias do cotidiano do bairro (na rua Diamantina e algumas adjacentes).

  • Enquanto subia a Diamantina, o cheiro de comida do restaurante “Rango” chamou minha atenção.

  • Encontrei com alguns participantes do NBN. Foi bom revê-los.

  • O trabalho de campo teve duração de duas horas e meia.

01/11/2018

  • Durante o trajeto, fiz algumas filmagens dentro do ônibus.

  • Fui até a casa da segunda moradora do bairro, Dona Odir, para entrevistá-la.

  • Logo depois, adentrei na rua Realeza e captei áudio das crianças brincando na escola Monsenhor José Cotta.

  • Fui até as cabaninhas tentar contato com Milton, mas ele e a família não estavam em casa.

  • Caminhei até a loja de Simério para obter informações sobre Milton e ele falou para eu ir até as “construções das moradias”, pois Milton estava trabalhando lá.

  • Por engano, subi a rua Diamantina e depois tive que descer novamente.

  • Ao passar pela rua da Policlínica, vi Junia vendendo verduras na esquina.

  • O sol estava muito quente. Senti muito calor e, por causa da indisposição, não consegui caminhar até as construções. Sentei para descansar.

  • Dessa vez, voltei para casa a pé.

  • Parei no trevo em frente ao Posto Raul para fazer filmagens da entrada do bairro e da placa que indica a direção do Cabanas, localizada na saída do bairro Chácara.

  • O trabalho de campo teve, mais ou menos, duas horas.

21/11/2018

  • Fui até a casa de Dona Odir para entrevistar ela e seu marido.

  • A entrevista teve duração de mais ou menos 30 minutos.

  • Descobri que minha família, por parte de pai, era amiga da família deles.

  • Terminada a entrevista, caminhei por algumas ruas e fiz filmagens do cotidiano do bairro.

  • Chovia.

  • Tive que ficar segurando a sombrinha em uma mão e o celular na outra.

  • Desci a rua Diamantina e parei no “Posto Raul” para pegar o ônibus e voltar para o centro da cidade.

04/12/2018 - Última caminhada

  • Fui entrevistar Milton (morador das cabaninhas).

  • Ele me contou sobre como é morar em uma roça dentro do Cabanas.

  • Entrei na rua da Policlínica e subi um morro em direção aos prédios que estão sendo. construídos pela prefeitura; Milton trabalha lá como vigia.

  • No meio do caminho, encontrei com ele e fomos juntos até sua casa.

  • Fizemos um trajeto diferente: dessa vez não desci pela Diamantina, mas passei por uma estrada de terra que é atalho para as cabaninhas.

  • Conversamos no terreiro. Chovia um pouco.

  • Fiz fotos dele com os cavalos.

  • Despedi-me e, ao passar pelo portão marrom, que estava úmido por causa da chuva, lembrei que as “Cabaninhas” deram início à história do bairro e à do meu trabalho, pois foi o primeiro lugar que entrei na minha primeira caminhada; também foi onde realizei minha última entrevista.

  • Enquanto descia a rua Diamantina,em direção ao Posto Raul, para pegar o ônibus, encontrei com Daniela, mãe da minha irmã, esperando-a sair da escola. (a mesma escola onde cursei o ensino fundamental).

  • “Oi. Tô aqui esperando sua irmã sair. Cê não quer ir lá chamar ela não? Ela sempre faz hora lá dentro”.

  • Quando cruzei o portão verde, um misto de lembranças veio à minha mente: ver aqueles adolescentes com uniforme azul, jogando bola na quadra enquanto a van não chegava, o lugar onde costumava, junto com minhas amigas, fazer o “Clube das Luluzinhas”; os prédios verdes, a cantina que costumava vender meu pirulito favorito por cinquenta centavos, o pé de jabuticaba e amora eram nossa diversão na hora do intervalo. Costumávamos subir neles para pegar as frutas; um menino brincando de pique e pega passou correndo na minha frente e fechou o portão para que, assim, o amigo não pudesse pegá-lo. Nessa hora, sorri e pensei “meu Deus, eu fazia a mesma coisa!”

  • Depois de alguns minutos andando pela escola, encontrei minha irmã dentro de uma sala de aula. Quando me viu, sua reação foi de surpresa. “MARI!”. Nos abraçamos  e fomos caminhando juntas até o Posto Raul. Conversa vai, conversa vem… nos despedimos. Meu ônibus havia chegado.

  • Na volta para casa, fiquei pensando em tudo o que tinha acabado de acontecer. Conclui que minhas caminhadas terminaram da melhor maneira possível. E esses afetos só foram possíveis porque escolhi o Cabanas para ser o lugar de realização do meu trabalho.

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